Suzana Schwerz Funghetto – 04/11/2018
Suzana Schwerz Funghetto
Doutora em Ciências e Tecnologias da Saúde pela Universidade de Brasília
Num contexto altamente competitivo, e com regras avaliativas, regulatórias e de supervisão cada vez mais complexas, as instituições se desdobram para atender os preceitos constitucionais da qualidade ou para implementar mudanças que a serviço de uma lógica mercadológica, na maioria das vezes sem uma participação efetiva da comunidade acadêmica (docentes, discentes e técnicos administrativos).
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior -Sinaes [1] ordena o sistema federal de ensino unificando processos para os diferentes atos autorizativos de credenciamento, recredenciamento no caso institucional e autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento no caso de cursos de graduação ou tecnológicos.
Antenado com exigências de mercado, o instrumento de avaliação in loco, estabelecido pelo Sinaes, atua como impulsionador desse processo que além de induzir a qualidade (em uma escala de cinco níveis), estabelece padrões a serem seguidos por todo o sistema. Desde 2017, o instrumento tem trazido o termo inovação prevendo a excelência da oferta. O termo inovação aparece em diferentes contextos tendo como perspectiva a adoção de mecanismos na área metodológica, tecnológica, processual (práticas exitosas) e de gestão para a implantação das políticas institucionais. Embora as instituições tentem buscar a inovação pouco se discute o papel desse significado frente aos processos acadêmicos e pedagógicos enfrentados para a implantação de todas as políticas previstas no Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI, definida aqui nesse contexto como inovação pedagógica.
A inovação pedagógica é complexa, necessita de ações articuladas entre o acadêmico e o administrativo para a gestão de processos institucionais, bem como a definição de metas e objetivos tangíveis frente aos desafios da formação de profissionais e as peculiaridades de cada área do conhecimento. Para isso, cada instituição deve definir as políticas a partir de sua missão, determinado o seu diferencial formativo e a sua capacidade de fazer a diferença no sistema. Nesse sentido é fundamental definir o conceito de inovação acadêmica e de inovação administrativa.
Parece óbvio, todo o processo de inovação produz rupturas paradigmáticas que vão além do uso de tecnologias, como diria Boaventura Santos. Ou seja, o que é óbvio não tem o mesmo significado em todas as culturas, processos, organizações, tecnologias e espaços de tempo. Se a missão não for definida de forma clara, as políticas institucionais e a inovação não aparecerão na visita in loco proposta pelo Ministério da Educação, por meio de evidências, denominadas no instrumento avaliativo vigente como práticas inovadoras ou exitosas.
Cabe destacar ainda, que inovação pedagógica pressupõe o desenvolvimento de propostas evidenciáveis ligadas a política de ensino, com metas e ações definidas em um espaço de tempo, que no caso da educação superior é a vigência do PDI. Outro fator importante é a formação para o compromisso social que deve estar presente no processo formativo de cada instituição a partir das habilidades e competências gerais descritas diretrizes curriculares dos cursos.
A instituição para inovar precisa criar mecanismos e fluxos de gestão para propiciar propostas educativas empenhadas com o processo de mudanças sociais (por meio da extensão e da pesquisa), valorização dos sujeitos e de suas aprendizagens (significação da aprendizagem, observação das diferentes formas de aprender e metodologias ativas de aprendizagem), investimentos em recursos humanos (formação de professores) e materiais (recursos tecnológicos e sustentabilidade financeira), além de ações sociais comprometidas com a formação para a responsabilidade social e cidadania, registrando as evidências alcançadas.
Referências:
FUNGHETTO, S.S. O desenho de fluxos institucionais e a inovação nos processos de avaliação e regulação por meio da comunicação (mídia avaliativa). Artigos de Opinião. 2 em 1 Comunicação e Educação, Brasília, 2018.
____. O que significa inovar na educação superior? Artigos de Opinião. 2 em 1 Comunicação e Educação, Brasília, 2018.
MASETTO, M. (Org.). Inovação no ensino superior. São Paulo: Edições Loyola, 2012. RIBEIRO, M.L; MUSSI, A. de A., FARIAS, I.M.S.de. Práticas pedagógicas inovadoras no contexto da educação superior. ENDIPE. Fortaleza, UECE, – Livro 4 00412 EdUECE,2014.
SANTOS, B. de. S. A crítica da razão indolente -contra o desperdício da experiência. Porto: Afrontamento, 2000.
[1] O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior -Sinaes, Lei 10.861/2004, evidencia o respeito a trajetória e as particularidades das Instituições de Educação Superior – IES[1] que por meio do ensino, da pesquisa e da extensão se dedicam a formar profissionais. As IES brasileiras apresentam diferenças organizacionais constitutivas específicas sendo estabelecidas como universidades, centros universitários, institutos federais e faculdades, com administração pública ou privada.