A MOTORISTA DO UBER

Poliana Nascimento – 09/08/2018

Hugo Eduardo Meza Pinto Fundador da Amauta – Economia Criativa (www.amauta.com.br) e professor Universitário.

Outro dia peguei um Uber e, na minha curiosidade de pesquisador, quis saber a formação da minha motorista. Uma moça muito bem articulada que aparentava ter estudos avançados. Ela me disse que era psicologa, que fazia Uber para complementar a renda familiar. Achei interessante, embora a corrida fosse curta, desenvolvemos um papo animado sobre o perfil das pessoas que andavam de Uber. Ela me disse que, grande parte das pessoas, além de quererem chegar ao seu destino final, procuram também conversar sobre suas vidas, sobre a economia e, até suas aflições. Para ela, era uma terapia profissional, como se tivesse vários pacientes no período em que fazia o Uber. A corrida acabou e veio na minha cabeça a lembrança de quando estive na Havana, Cuba. O taxista, há 10 anos, passando por um aeroporto, assinalou para um pátio cheio de aeroplanos e me disse:

  • O senhor está vendo esse avião?

Apontando para um avião de pequeno porte, disse que sim, foi quando ele respondeu:

  • Pois é, eu consigo montar e desmontar esse avião sem problemas.

Perguntei de onde tinha essa especialidade, foi quando ele me disse:

  • Sou engenheiro mecânico com ênfase em aviação.

Sem querer traçar um paralelo direto, ainda não temos dados sobre o perfil dos motoristas de Uber no Brasil, me atrevo a fazer uma reflexão: nossos motoristas de Uber ficarão cada vez mais qualificados.

Grande parte do desemprego que estamos vivendo se deve, obviamente à crise econômica que afeta o país. Há anos que o PIB não cresce significativamente e, pelo visto, nesse ano de 2018, se ele crescer 1% é para comemorar. Segundo o IBGE, o desemprego ainda atinge 13 milhões de pessoas, os níveis de produção atuais são parecidos aos de 2005 e 2006. Porém, também uma grande parcela do desemprego pode ser creditada à inserção tecnológica acontecida em quase todas as áreas de serviços e nas industrias tradicionais. Na indústria a demanda por mão de obra pouco qualificada e intensiva em esforços físicos acabou, o nível de automação e robotização aumentou significativamente. Hoje se fala em indústria 4,0, caracterizada por ter um alto índice de robotização e demanda de uma Mao de obra, cada vez, mais qualificada. Na área de serviços o uso de inteligência artificial está provocando uma revolução. Se você ligar para um 0800 ou um atendimento ao consumidor de uma grande empresa, possivelmente seja atendido por um bot (robô programado para responder perguntas ou resolver problemas usando a Inteligência Artificial). Nessa questão particular, imagine a quantidade de profissionais de telemarketing que serão afetados. Ainda na área de serviços, a mudança dos negócios físicos para a internet, reduz dramaticamente a demanda de alguns profissionais, por exemplo, vendedores de loja, atendentes de agencias de viagens, corretores de seguro ou de mobiliárias, dentre outros. Inclusive em áreas mais especializadas como do Direito, a tecnologia tem afetado muito. Na JPMorgan, empresa do mercado financeiro, um robô está analisando acordos financeiros, que uma vez mantiveram equipes jurídicas ocupadas por milhares de horas. O programa, chamado COIN (Contract Intelligence), interpreta acordos de empréstimo comercial, atividade que normalmente consumia 360 mil horas de advogados por ano. O software revê os documentos em segundos, é menos propenso a erros e nunca pede férias nem cobra 13º salário.

Apesar dessa perspectiva caótica, no Mobile World Congress, principal feira do setor de tecnologia, desse ano, acontecida em Barcelona, os especialistas disseram que haverá mais criação que destruição de empregos no futuro.

“Acreditamos que haverá mais criação do que destruição de empregos com a inteligência artificial”, disse Bob Lorder, responsável pela área de negócios digitais da empresa.

Só que há um porém:

TODAS as profissões do mundo serão atingidas.”

Ainda não é possível antever o que serão os novos empregos. “Antes de existir o avião, ninguém podia prever que haveria o emprego de comissário de bordo”, disse.

Esse é o ponto chave, que tipos de profissões serão extintas?

Nesse sentido, a minha reflexão maior se centra em algumas questoes:

  • Que tipos de profissões estamos ensinando?
  • Qual a sensibilidade das instituições de ensino para essas mudanças estruturais?
  • Como os professores estão se preparando para encarar essa realidade?
  • Qual a iniciativa do Estado, para criar politicas públicas, de pesquisa e de inovação para fazer frente a esse novo mundo?

A minha amiga psicologa, motorista de Uber, me deu a possibilidade de realizar esses questionamentos.

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